quinta-feira, 7 de abril de 2011

A Criatura.com e o Criador.org

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Procuramos demonstrar, ao longo desta pesquisa que seleciona, traduz e reconstrói narrativas históricas de autores célebres, que os fatos, situações, e dinamismos presentes nos mais diversos contextos históricos, não nos permitem concluir este estudo numa perspectiva aqui já demoradamente criticada, ou seja, a do pensamento dual, do binômio certo ou errado, do dualismo cartesiano.
Assim, gostaríamos de enfatizar algumas questões que nos parecem fundamentais para o entendimento do que se passa no atual contexto histórico que abriga “O Criador” e “Suas Criaturas”, a fim de que possamos, realmente, compreender o vertiginoso movimento que sacode nossas sociedades e os nichos privados donde surgem as Criaturas, a partir de uma “história-de-vida” de um “Criador”.
Iniciamos por chamar a atenção para o aspecto da “Mídia e sua relação com a sociedade contemporânea”: As mudanças nas práticas comunicacionais, o desenvolvimento tecnológico e a disseminação social da lógica mercantil são os novos elementos que se agregam às características atuais do capitalismo e à existência de um mercado de dimensões mundiais. As relações entre economia e cultura, no contexto da pós-modernidade, engendram modificações nos processos sociais, e comunicacionais, como nunca dantes visto. A era do “Virtual”, já se confunde com o próprio “Real”. A situação atual da indústria cultural e a presença de mensagens caracterizadas pela combinação de informação e de entretenimento começam por delinear uma nova “Zona de Criação Coletiva”, que parece não se prender aos ditames da legislação sobre os direitos autorais. Esse fato, mais que qualquer outro, demonstra o poder de mobilidade de obras, de autorias, de conhecimentos, e de informações, que atualmente ligam em rede o planeta inteiro. É possível, e, ainda, é conveniente, pararmos o “movimento histórico” que nos traz o novo e o inesperado?!
Ressaltamos as inter-relações entre “Mídia, Poder e Ética”, resgatando FOUCAULT para iluminar a questão do poder dos atuais meios de comunicação sobre a organização da sociedade contemporânea. Constatamos a dinamização e a atrofia do espaço público que acaba por repercutir nas relações objetivas e subjetivas do “Criador”, com suas “Criaturas”. As características específicas de cada meio de comunicação, na dinâmica desse processo, e a disputa pela hegemonia, através do modelo concentracionista, contribuem para a racionalização do discurso e aos limites do pensamento hegemônico. Neste contexto o direito de comunicar, e as formas democráticas de controle social, ainda são discutidos. Os limites éticos da comunicação de massa parecem avançar mais rapidamente que o Direito os possa alcançar.
Finalmente, procuramos demonstrar como a “Economia da Informação”, na sociedade contemporânea, através do impacto econômico das revoluções tecnológicas, criou as contradições atuais da economia dos bens informacionais e imateriais. Estas, por sua vez, geraram monopólios de bens simbólicos e culturais, através de técnicas de aprisionamento, de feedback, etc., em um contexto informacional e global. Os novos aspectos “regulatórios” da Economia da Informação e do Conhecimento (patentes e copyright), entretanto, vêm se deparando com uma feroz vertente de competitividade em busca da eficácia econômica das práticas colaborativas.
Este é o cenário onde encontramos, hoje, o “Criador” e a “Criatura”. Quem ganha e quem perde com isso? “Esqueça essa história de querer entender tudo. Em vez disso: Viva! Em vez disso: Divirta-se! Não analise: Celebre!”.
A questão mais importante não se resume a ganhos, nem às perdas... Mais apropriada a reflexão de Mario Quintana, parodiando Lavoisier, ao descobrir que lhe haviam roubado a carteira: “nada se perde, tudo muda de dono”. A singeleza e simplicidade de sua “síntese” conseguem aqui traduzir nossa percepção sobre o momento e o movimento atuais. Há dinâmicas presentes em todos os tempos históricos que escapam ao nosso controle. Não devemos esquecer que os tempos históricos se complementam ou se conflitam. A famosa crise da modernidade convive com a da pós-modernidade. Nem tudo está definitivamente perdido, ou mesmo deixando de ter importância. É inegável, porém, que temos que procurar outras maneiras de analisar o mundo humano e ter um olhar mais crítico diante das verdades modernas (REZENDE, 2004).
Embora esteja configurada a sociedade do espetáculo, e da banalização da violência, contraditoriamente também está sendo consolidada a sociedade rica na produção de conhecimentos. Ultrapassamos muitos impasses, mas a sociedade globalizada não consegue viver sem drogas e depressões. Caímos num consumismo sem limites, sem uma socialização que possa diminuir as imensas diferenças sociais. Passamos por inquietudes que podem trazer soluções sociais e políticas que levem a práticas menos individualistas. Não há desenganos definitivos, nem tampouco o fim da história. As possibilidades de mudança continuam abertas, os paradigmas não são verdades absolutas, a história nunca deixou de ser uma invenção humana, como também o projeto de autonomia não morreu, é válido para construir-se uma perspectiva mais igualitária e uma sociedade não infantilizada pelos brinquedos eletrônicos, pelo onipresente fetiche das mercadorias. Ainda há espaço de luta para salvar-se da insanidade mental ou do culto fundamentalista das riquezas materiais (REZENDE, 2004).
No mundo de tantas diversidades, a questão da solidão ganha territórios imensos. Hannah Arendt já apontava para os limites da expansão tecnológica, no seu livro “Entre o passado e o Presente”, que levaria o ser humano a conviver com uma solidão destruidora diante da massificação constante dos valores. Criamos a cultura, estamos cercados dos nossos produtos, somos criador e criatura, mas mergulhamos numa relação coisificante (AMORFA) com os nossos inventos.
No mundo da cultura, parecemos seres estranhos, sem intimidades com o que criamos, como vítimas dos mecanismos transferências que dominam a mídia, no reino do Big Brother (REZENDE, 2004). Portanto, o exercício da crítica se perdeu, parece ser monopólio de alguns iluminados pela arrogância de um tipo de saber considerado científico.
Melhor seria, então, resguardar-se o sentido do “sagrado” que ainda não se extinguiu das Artes e das relações entre quem cria e é criado. São esses “nichos” que preservam aqueles elementos que, em essência, são significativos na busca espiritual do homem, baseando-se não apenas na compreensão intelectual, mas sim na sua própria experiência existencial.
Como bem salienta Castoriadis, nos seis volumes das Encruzilhadas do Labirinto, o histórico e o social estão entrelaçados, a manutenção desse vínculo move a cultura e fortalece a nossa capacidade de compreender a dimensão do mundo.
No que, lhe complementa, REZENDE (2004), “Não é possível a história sem a construção do diferente, sem um projeto que nos arranque da passividade e do conformismo, sem a visão elucidativa da conjugação de todos os tempos, sem privilegiar o passado, nem o futuro, mas circulando no tempo mágico do presente, o grande cais onde desembarcamos todas nossa vivência, amigáveis ou não”.

Link para a Tese de conclusão de curso Latu Senso pela Universidade Santa Cecília - Unisanta:
http://www.4shared.com/file/Ph81dFKO/O_Criadorcom_e_a_Criaturaorg.html

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