segunda-feira, 30 de março de 2009

MENINO - JAN.92




Pôr do sol, despedida rubra, mais um belo dia no verão tropical a ficar na lembrança...
A praia em curva sinuosa moldurada pelo coqueiral, deserta em seu regaço, avisto, solitário menino acocorado e próximo a blocos de pedra que teimam ricochetear as ondas do mar, brancas gaivotas entoam a brisa do anoitecer.

O menino, tal estátua, admira horizonte em cores quentes escritas pelo sol em céu pronunciado em estrelas. A lua, já se apresenta no reflexo da luz, guardiã do trono. Negros e longos cabelos esvoaçam uma dança, sem tirar a concentração daquele pequeno ser.

A cena provoca a imaginação sobre os pensamentos daquele menino, em silêncio me aproximo e na ânsia curiosa fico admirar, pele queimada de futuro pescador, olhar sisudo, não se incomoda com o vento liberdade que traz frio ao magro corpo vestido maltrapilho.

Horas se passaram em silenciosa comunhão, restando a razão penitência em meio à natureza. Foi na passagem de furtiva nuvem que a lua clareou seu rosto em lágrimas a deslizar.

Bem-te-vi, gotas de lágrimas escorrerem sentimentos na límpida areia de finos grãos combinando no brilhoso liquido, assim eu vi, brotar gradativo luz dourada entre o jazigo das lágrimas, ocupando o cenário até o momento de cegar meu testemunho.

Reviro olhos, meus sentidos em alerta percebo no abrandar do clarão uma forma humanóide se apresenta diante do menino, com generoso sorriso.

- Olá Gabriel!
- Não se assuste, você me chorou, estou aqui pra te amparar.
- Como você sabe, meu nome?
- Sou um de seus sentimentos, eu nasço em você, assim como todos meus irmãos, você tem muitos sentimentos, sabia!
- Mas, mas...

Hipnotizados pela presença, admiro brilho e faíscas saltando dos olhos castanhos e grandes do menino.

- Dentro de vi, Gabriel, meus irmãos Saudade e Solidão que estão gritando, pois longe estão nossas irmãs Carinho e Amor.
- Em breve o tempo estará diante de ti clamando a união de todos nós sentimentos dentro de você, assim é, assim será, voltarei a abraçá-lo juntamente com as irmãs Alegria e Tristeza.
- Puxa vida, depois que meu pai e minha mãe foram pra longe de mim, tinha meu cãozinho Tuti a brincar comigo, meu único amigo. Hoje de manhã, fui trocar a água de sua vasilha e o encontrei deitado, não respirava... O Tuti morreu... Fiquei sem companhia, sem nada... Quer dizer que tenho um monte de irmãos! Muito bom saber, e como posso chamar você?
- Lágrima, estou dentro de você e aprendo na passagem pelo coração que nunca estamos sozinhos, com atenção nas virtudes, cultivando bons sentimentos, estaremos sempre próximo de bons companheiros.
- Você sabe me dizer onde está o Tuti?
- A vibração energética do Tuti segue seu destino no caminho eterno, o mesmo caminho que no futuro você irá seguir na sua vida.
- Minha vida! Não é aqui?
- Sua vida é onde você está no seu eterno momento. Viva meu menino, pois também sou Lágrima da irmã Alegria.
- Eitá, terminei por despertar você em meus olhos, bom, vou fazer o tempo de aprender, vou voltar correndo para casa, lembrei... Deixei o gato da vizinha preso no banheiro, do jeito que você fala, despertei outros irmãozinhos...
- Sim meu menino, você despertou a Ira e a deixou em revolta no coração.
- Já vou, Lágrima, agradecido pelo meu despertar, vou prestar mais atenção aos nossos irmãos sentimentos de agora em diante. Você me faz um favorzinho!
- Sim.
- Diga para o Tuti que eu amo muito ele e que me aguarde pra gente brincar novamente.
- O Tuti ouve você e entende seu amor, ele está saltitando de felicidade.
- Tchau, Lágrima... fui...

De um salto o menino se pôs a correr a pequena trilha descampada em direção a casa. A forma de luz reduz gradativamente seu brilho, não sem antes seguir em minha direção a piscar adiante de um ser perplexo em estátua enluarada.

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