segunda-feira, 30 de março de 2009

ADUBAR - FEV.94



Fertilizante pequeno município longe de tudo e de todos, próximo a nada, encontramos o Dr. Ariberto, reconhecido e único advogado das causas comunitárias em plena campanha eleitoral, e candidato a vereador, estando sorridente no coquetel promovido pelo partido à sociedade local, nosso repórter Anibalesco entrevista:

- Seo Ari, tamos aqui no vivo e no frio em “redi nacionar” com tudo di emissoras de rádio da região. A Turma quer saber, principalmente seu rival, o qui o sinhô tem nos informa sobre os fundos de tão milionária campanha!

- Bão, hum-hum, como ocê devi de sabe, também sou empresário com muitos amigos correligionários aguentano minha campanha. A Famiá também conta né... é ela por demais de muita gente com voto. Desta vez tô eleito, demoremo uns vinte ano.

A estória começou com vovô que teve 8 filhas e 4 meninos, sabe como é, dos doze, fumo pra 120, sem contar desafortunados a famia foi crescendo.

- Seo Ari, o povo qué sabe dos fundos?

- Ora, os fundos é de capitar escambado e partezinha substanciar vem da fabriqueta, lá do quintar de casa.

- Seo Ari, tomamos conta desti coquité com muita rapadura, pé de molequi, groseia pras crianças, fartura de pipoca pras moças, só de mio cozido o sinhô arrematou toda a roça da cidade... tem tanto escambo assim é, conta tudo pra rádio Araponga...

- Eita reporti curioso sô... oia, sou empresário do adubo, nóis em casa temos muita produção, começemo assim, eu, muié, filhotes, até meus caozinhos, só o doguinho sozinho produzia vinte e cinco porcento da produção a cada méis. Fumos os maiores contribuintes de impostos e receitas prós laboratórios da capitar de tanto comprar laxantes...

- Cumá

- Falando portugueis craro, começemo com 100 quilos de bosta/méis, hoje com a união da famia tamos distribuindo mais de tonelada.

- O sinhô ta escambando coco, bosta, merda por votos?

- Sê pergunto dos meus fundos! – Trabaiemo de modo sério, já registrei monte de marcas, ta tudo patenteado e com selo do IMPI.

- Caspite!

- Nada não sô, é marquetingue, temos COCO IN NATURA - pra lavar barba di bodi, temos REBOSTEIO – pra tirar cavalgadura, em lançamento o PREBOSTE – pra uso gerar, são fezes cintifícamente silecionadas, a dedo e chero, to pensando em ixportação, tô sendo exemplio ao nosso ministro da economia, sim senhor. I já mandei vir duas carretas de biterraba lá dus Campos, arrigimentei famia di minha sogrinha querida e vão todos almoçar e janta só biterraba com cibola, recebi encomenda do nosso presidente pra uma tar de Cobar. Foi um istudo e pisquisa danado pra acertar a consistência e cor du jeito que o Mané qué.

- São duzentas pratas.

- Num entindi?

- São duzentas pratas pelo merchandisingui, tá em redi nacionar. Qui chero e essi?

- Fica com o troco, sêo estrumi.

Sou a sua flôr - Mar09




Ofereço minhas petálas
Incenso colorido
Meu perfume, essência
Brincar em seda sedução

Ser apenas seu amigo
Ser pólen de amor
O mel e o fel amigo
Se espinho dor

Incondicional te amo
Seiva sangue
Simples amizade
Apenas tudo

Mhalary - setembro/06

Muito longe de lugar algum, extremo da floresta amazônica no entroncamento dos rios Uaupés e Negro. Há uma tribo composta de descendentes do povo Inca, população próxima de trezentos indivíduos.

Este povo apresenta estatura alta, sua pele lembra a cor do fruto jambo, tonalidade roxa cintilante e sedosa, olhos de cores claras, quase transparentes. Aparência exótica e bela, os Mhalary mantém alguns traços da antiga cultura Andina, com traços, linguagens e significados próprios, totalmente isolados de qualquer outra cultura social.

Vive nessa tribo o pajé Oxry Ke We, o sábio e mentor, seus cabelos brancos, corpo pouco arqueado e perfil atlético, aparenta cinqüenta anos de idade. A centenária mais antiga da tribo diz a todos que foi o pajé que a tirou do ventre da mãe e brinca com a possibilidade de ter sido ele seu pai...

Oxry tem percepção sobre os sentidos básicos e o poder da audição, visão, tato, paladar e olfato dos humanos. Conhece a força invisível da mente e o seu potencial ao desenvolvimento espiritual no plano físico.

Na décima terceira “lua em prata” (lua nova), período de festas comemorativas a farta colheita obtida naquele ano, a primeira noite da “lua em prata”, considerada a de maior influência nos sentidos e sentimentos, haja vista é nessa época onde muitas mulheres engravidam na tribo, é também, à noite do sermão, do respeitado pajé Oxry Ke We.

A lua posicionada no alto do firmamento, Oxry Ke We reserva uma apresentação especial com objetivo de demonstrar a existência da força mental que existe em cada um dos indivíduos do seu povo que estava ao redor da grande fogueira com suas labaredas alcançando e emoldurando as estrelas no recanto tropical.

No alto de um tablado, em pé diante de sua tribo, iniciou breve palestra sobre os sentidos humanos, flexão e causa nos sentimentos individual e na coletividade, dedicou tempo silencioso a concentração orando um estranho canto aos ouvidos presentes, levantando os braços, mantendo-os abertos a população... Momento extraordinário, seu encantamento gerou força mentais coletiva, extasiados entreolhavam seus corpos acima da altura da cabeça do mestre, acima das labaredas... Enxergam seu corpo, mas o que são aquelas “cópias” no chão, o que é aquele fio brilhante que o ligava “seu corpo” pairando no ar com aquele corpo “sólido”!... O que é aqueles fios brilhantes se entrelaçando entre uns e todos!

Foram breves momentos, pouco a pouco, como um balão de gás esvaziando, retornam para o corpo “sólido”. A inusitada experimentação refletiu de maneira assustadora, surgiu o medo sentimento desconhecido inflando os integrantes a revoltarem-se contra o mestre ao crescente vozeio começam a afastar-se do local, não dando tempo necessário aos esclarecimentos do pajé sobre a força da mente.

Época de medo perdura naquele povo que decidiu não mais buscar esclarecimento, Oxry agora eremita isolado da população, recebe de tempos em tempos a visita do cacique. A tribo Mhalary está à mercê de interpretações dos sacerdotes.

Oxry Ke We, atualmente vive em outra comunidade junto aos descendentes da tribo Mhalary e aguarda pacientemente que os restantes do seu povo, resgate a luz espiritual escondida pelo medo no desconhecido subconsciente.

GLORIA DE UM BÊBADO - MAR.76

Bêbado tem gloria? , - tem sim senhor.

Para quem tem somente criticas a bebedeira pessoal desenvolve a sensibilidade oferecendo oportunidade para transparecer as angustias e mostrá-las ao mundo.

Foi na noite de três de julho de 1975, eu trabalhava num balneário e já fazia nove horas de noite quente no bairro, encontrava-me encostado à parede lateral de entrada ao recinto, frente à calçada, admirando o movimento, quando avistei um negro cambaleando pela ilhota da avenida principal, aos trancos e barrancos ele se aproximava da minha vista, até que reparei no que ele estava fazendo.

Zonzo, embriagado, pôr cada arvore que passava ele limpava o tronco e galhos da sujeira de papéis e plástico que se acumulavam e podando os galhos secos deixava a arvore limpa para crescer. Recentemente a prefeitura havia colocado muda de diversos tipos de arvore e a população já demonstrava todo o seu interesse colocando espetos, paus e faixas em volta de uma planta que queria ser arvore. Zonzo e embriagado seguiram seu destino nos 5 km de avenida.

Um gesto deste faz a gente pensar, será que temos que nos embriagar para fazer o certo, pôr que o politicamente correto não se faz sóbrio, falta de conscientização, de pudor, de vergonha, de que é preciso para fazer o que o coração pede para que o nosso próprio convívio seja melhor.

MENINO - JAN.92




Pôr do sol, despedida rubra, mais um belo dia no verão tropical a ficar na lembrança...
A praia em curva sinuosa moldurada pelo coqueiral, deserta em seu regaço, avisto, solitário menino acocorado e próximo a blocos de pedra que teimam ricochetear as ondas do mar, brancas gaivotas entoam a brisa do anoitecer.

O menino, tal estátua, admira horizonte em cores quentes escritas pelo sol em céu pronunciado em estrelas. A lua, já se apresenta no reflexo da luz, guardiã do trono. Negros e longos cabelos esvoaçam uma dança, sem tirar a concentração daquele pequeno ser.

A cena provoca a imaginação sobre os pensamentos daquele menino, em silêncio me aproximo e na ânsia curiosa fico admirar, pele queimada de futuro pescador, olhar sisudo, não se incomoda com o vento liberdade que traz frio ao magro corpo vestido maltrapilho.

Horas se passaram em silenciosa comunhão, restando a razão penitência em meio à natureza. Foi na passagem de furtiva nuvem que a lua clareou seu rosto em lágrimas a deslizar.

Bem-te-vi, gotas de lágrimas escorrerem sentimentos na límpida areia de finos grãos combinando no brilhoso liquido, assim eu vi, brotar gradativo luz dourada entre o jazigo das lágrimas, ocupando o cenário até o momento de cegar meu testemunho.

Reviro olhos, meus sentidos em alerta percebo no abrandar do clarão uma forma humanóide se apresenta diante do menino, com generoso sorriso.

- Olá Gabriel!
- Não se assuste, você me chorou, estou aqui pra te amparar.
- Como você sabe, meu nome?
- Sou um de seus sentimentos, eu nasço em você, assim como todos meus irmãos, você tem muitos sentimentos, sabia!
- Mas, mas...

Hipnotizados pela presença, admiro brilho e faíscas saltando dos olhos castanhos e grandes do menino.

- Dentro de vi, Gabriel, meus irmãos Saudade e Solidão que estão gritando, pois longe estão nossas irmãs Carinho e Amor.
- Em breve o tempo estará diante de ti clamando a união de todos nós sentimentos dentro de você, assim é, assim será, voltarei a abraçá-lo juntamente com as irmãs Alegria e Tristeza.
- Puxa vida, depois que meu pai e minha mãe foram pra longe de mim, tinha meu cãozinho Tuti a brincar comigo, meu único amigo. Hoje de manhã, fui trocar a água de sua vasilha e o encontrei deitado, não respirava... O Tuti morreu... Fiquei sem companhia, sem nada... Quer dizer que tenho um monte de irmãos! Muito bom saber, e como posso chamar você?
- Lágrima, estou dentro de você e aprendo na passagem pelo coração que nunca estamos sozinhos, com atenção nas virtudes, cultivando bons sentimentos, estaremos sempre próximo de bons companheiros.
- Você sabe me dizer onde está o Tuti?
- A vibração energética do Tuti segue seu destino no caminho eterno, o mesmo caminho que no futuro você irá seguir na sua vida.
- Minha vida! Não é aqui?
- Sua vida é onde você está no seu eterno momento. Viva meu menino, pois também sou Lágrima da irmã Alegria.
- Eitá, terminei por despertar você em meus olhos, bom, vou fazer o tempo de aprender, vou voltar correndo para casa, lembrei... Deixei o gato da vizinha preso no banheiro, do jeito que você fala, despertei outros irmãozinhos...
- Sim meu menino, você despertou a Ira e a deixou em revolta no coração.
- Já vou, Lágrima, agradecido pelo meu despertar, vou prestar mais atenção aos nossos irmãos sentimentos de agora em diante. Você me faz um favorzinho!
- Sim.
- Diga para o Tuti que eu amo muito ele e que me aguarde pra gente brincar novamente.
- O Tuti ouve você e entende seu amor, ele está saltitando de felicidade.
- Tchau, Lágrima... fui...

De um salto o menino se pôs a correr a pequena trilha descampada em direção a casa. A forma de luz reduz gradativamente seu brilho, não sem antes seguir em minha direção a piscar adiante de um ser perplexo em estátua enluarada.

Conversa entre nádegas (vídeo: Statler & Waldorf - Muppets)

Nader e Agda fazem parte de um formoso bumbum de uma linda morena de cabelos loiros carioca. O casal de nádegas comenta a situação...

Nader - Você sabe o que a nádega falou prá outra!
Agda - Que fique tudo entre nós...
Nader - Daqui só sai merda. (contribuição: dbarodrigo@gmail.com)

Agda - Acho que nossa portadora é realmente loira!
Nader - Porquê?
Agda - Colocou um fio dental entre nós banguelas...

Nader - Sinto um cheiro estranho...
Agda - não sou eu, foi o cú pado.
Nader - É por isso que xingo ele de cú nhado
Agda - Já percebeu como o cú rioso
Nader - Sim, as hemorroídas estão me coçando...

Agda - Nossa, por que você está fazendo bico!, tá com dor de estomâgo?
Nader - Pois é, acho que vou vomitaaaaarrrr...... ploft...

Nader - Sabe que estão falando mal da gente por ai?
Agda - Liga não boba, são as más línguas!

Nader - Quem olha pensa!
Agda - Que somos duas coisas diferentes associadas a inteligência que está localizada no cérebro...
Nader - Somos parecidos com o cérebro!
Agda – Pense, my boy, sou a emoção e você a razão...
Nader – Ouviu os comentários - a diferença entre nós e o cérebro, é que usamos botox.

Nader - Agdinha meu amoreco, tudo que ficar entre nós termina em merda...
Agder - Meu querido, por essa e outras e que não deixo de fazer minha consulta semanal ao meu personal cumonicólogo ele entende de tudo sobre a socialização na era digital...

Nader - Estou preocupadissímo, nossa amiga loura falsa, dia desses ficou encantada com buzunga que alertava sobre a questão da responsabilidade social é que ela é portadora de um produto natural auto sustentável!
Agder - Não fique nervoso meu bem, isso causa celulite na sua pele, nestes tempos quânticos e holistícos estão anús atrás...

Inspiração...
The Muppet Show - Statler & Waldorf

Conversa entre nadegas (se tivessemos braços)
A – Menina, estava aqui imaginando...
N – O que é desta vez!
A – Prá você pensar, nosso condomínio tem dois braços, duas mãos, cinco dedos em cada uma, duas pernas e nós duas todos de cada lado do corpo, o direito e o esquerdo...
N – Você presta uma atenção, de orifícios pares somente o nariz e a orelha!
A – Estou pensando se cada uma de nós tivesse seu braço e nem precisava de tantos dedos...
N – Inveja eeeh...
A – Com tanta tecnologia, implantes, poderia atender o celular que ela coloca na sua cara, limpar a cozinha, punhetar o amigo dela, fazer uma cirica, apertar os botões de descarga os Eletrodomésticos, sem ela precisar se virar... O que você faria com seu braço solitário e dedinho órfão!
N – Hum... Acho que estaria coçando o nariz!