quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Passado sem Fim - agosto.75

Está história foi um sonho pitoresco, que registro em minhas lembranças.

... Encontro-me recostado à uma grande àrvore, na busca de seus frutos, enquanto me desfruto cuspindo caroços ao sabor do vento, contemplava a cidade distante calculo uns cinco quilômetros de onde me encontrava.

Trepado no mais alto galho suportando um peso de oitenta quilos, sinto o frio silêncio do vento, a sombra me protege do sol e ilumina a região na florêncencia da primavera. Refletia pensamentos, avistando o mosaico de prédios rústicos de natureza e sua estrutura de estranha harmonia acida, de sua gente que não têm tempo de conversar, olhar e sentir a causa de seus medos, cada um pensando no seu umbigo, no seu dia-dia, que futuro?

Fiquei naquela posição pôr várias horas, até que pôr encanto tudo começou a ruir, a se desintegrar, todas as coisas que faziam parte do cenário da cidade transformando-se em pó diante de meus olhos, num profundo silêncio. Todas as pessoas que estavam lá todas as coisas se transformaram em montanhas de pó em poucos minutos, meus pensamentos criavam perguntas e respostas para o passado daquelas vidas, o fim de suas histórias.

Do horizonte aproximava-se uma gigantesca montanha formada como uma esteira de grama que cobria todo aquele pó cinza das ruínas, enquanto a grama se acomodava pela terra encobrindo o que poderia ser o futuro, foram pipocando arvores, plantas, arbustos e flores de várias espécies, numa seqüência alucinante cresciam a minha frente abrindo-se em folhas e frutos, uma brisa trazia o perfume de vida nova, o cheiro da floresta me provocou a descer ao gramado para um reconhecimento ao paraíso instantâneo e caminhei até o pé de um morro onde pude avistar diversas pessoas, homens, mulheres e crianças, vestidos de forma simples com camisetas brancas, descalços, sem nenhum outro acessório que não seja a camiseta, calças e saias, sem exigências que a cidade impunha aos seus moradores, animais de diversas espécies convivendo de forma harmoniosa e mansos aos humanos, muitos deles desconhecidos que não vi nem em fotos de arquivos e revistas nas lembranças do meu pensamento.

Passei o que parecia longas horas admirando aquele cenário, quando a fome me alertou o estômago, fazendo-me detalhar os frutos que estavam em volta, entravam pensamentos para utiliza-los com sabedoria para eleger a eternidade que brotava de nossos pés, o mesmo alimento que é dividido com os animais e pássaros que piam pôr todos os cantos, legumes que brotavam de forma silvestre entre os arbustos que eu conseguia distinguir.

Enquanto eu apetecia aqueles frutos meus pensamentos voltavam-se para toda aquela gente que buscava se achar naquele imenso bosque, e destes aqueles que acostumaram-se a comer carne será que suportariam aquele estado vegetativo, teriam coragem de matar os animais que estavam ao seu redor para satisfazer seus caprichos.

O tempo continuou em semanas, sozinho eu contava o tempo pelo sol e estações de clima, caminhando sem rumo pelas trilhas sem fim, sem passado, sem futuro, até contornar um rochedo onde encontrei quatro garotas que reconheci no período em que vivia na cidade, estavam se refrescando numa pequena cachoeira, brincavam como meninas inconseqüentes do belo corpo nu que mergulhava nas quentes águas do riacho, propiciando um convidativo convívio que passei a ter numa vida incomum, num bosque incomum.

Deste grupo se destacava uma morena de cabelos lisos e longos com grandes olhos verdes, de porte garboso, seu nome Lena, simbila como música de seus carnudos lábios, sentia forte emoção, entendiam-nos perfeitamente antes e depois do episódio das ruínas. Como se já a conhecesse de muitos e muitos milênios...

Naquela noite em volta de uma fogueira próxima ao riacho conversávamos a idéia de buscar um lugar para se fixar e parar de zanzar pelo imenso jardim, e assim na manhã seguinte seguimos uma trilha no sentido norte a posição do sol, ainda desconhecida em busca de um lugar que pudessemos denominar como lar.

Surpresa atrás de surpresa de uma floresta exuberante, já aproximava-se o horário do sol a pino, deparamos com três colegas de minha época escolar da cidade devastada, enquanto almoçavamos todos juntos a sombra de uma imensa, o que parece com jacaqueiras perfumadas, iniciamos votação para seguirmos todos juntos na busca de um lugar para se instalar.

No final da tarde paramos para descansar, o percusso, na ingreme subida da montanha paramos para apreciar a paisagem que se avistava ao longe, o reflexo de uma imensa praia onde enormes ondas desmanchavam-se em doces caricias na areia dourada, no mar azul avistava bandos de golfinhos, na vista a encosta da montanha encontramos uma caverna e próximo escorria uma cachoeira, desaguando em uma enorme bacia natural fazendo-se de quintal para um cenário maravilhoso, àguas do plâto pricipitavam-se para o mar. A cada passo que alcançávamos aquele local nossos olhos se enchiam de lágrimas como dizendo que aquilo tudo era um lar. Ficamos vários dias investigando e descobrindo todas as facetas daquele lugar, mal saibamos que estávamos desenvolvendo raízes num pedaço de chão que denominamos de lar.

Mais e mais tempo foi passando, a minha relação com a Lena gerou um filho que chama-mos de Talhe, nossos amigos, formaram novos casais, que com o tempo resolveram partir para um novo lugar e constituirem suas famílias. No sopé da montanha onde vivíamos surgiu com o tempo e a chegada de novas pessoas uma aldeia que se configurou, lembrança e percepção na civilização Inca, todas as pessoas com quem conversávamos tinham resquícios de lembranças no passado daquela cidade que assisti sendo enterrada e demonstravam não gerar os erros das vidas anteriores, procurando viver numa civilização reestruturada pela experiência de compartilhar os acertos numa comunhão natural de vida eterna sem receios, sem vícios, sem doenças.

Meu sonho terminava num belo pôr do sol, passeando pelas ruas da comunidade junto com Lena e Talhe que ensaiava seus primeiros passos, encontramos dois anciões descansando na soleira de uma casa de pedra, onde conversavam.

- ... Um homem conhece várias formas de corromper-se, mas somente na velhice de sua morte, fica ciente do que fez sem beneficiar-se dos prazeres feitos sem obrigação. Deus retira-lhe tudo, devolvendo-o a natureza humilde. Se houver tristeza, essa será apenas o espaço entre as alegrias.

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