segunda-feira, 30 de março de 2009

Mhalary - setembro/06

Muito longe de lugar algum, extremo da floresta amazônica no entroncamento dos rios Uaupés e Negro. Há uma tribo composta de descendentes do povo Inca, população próxima de trezentos indivíduos.

Este povo apresenta estatura alta, sua pele lembra a cor do fruto jambo, tonalidade roxa cintilante e sedosa, olhos de cores claras, quase transparentes. Aparência exótica e bela, os Mhalary mantém alguns traços da antiga cultura Andina, com traços, linguagens e significados próprios, totalmente isolados de qualquer outra cultura social.

Vive nessa tribo o pajé Oxry Ke We, o sábio e mentor, seus cabelos brancos, corpo pouco arqueado e perfil atlético, aparenta cinqüenta anos de idade. A centenária mais antiga da tribo diz a todos que foi o pajé que a tirou do ventre da mãe e brinca com a possibilidade de ter sido ele seu pai...

Oxry tem percepção sobre os sentidos básicos e o poder da audição, visão, tato, paladar e olfato dos humanos. Conhece a força invisível da mente e o seu potencial ao desenvolvimento espiritual no plano físico.

Na décima terceira “lua em prata” (lua nova), período de festas comemorativas a farta colheita obtida naquele ano, a primeira noite da “lua em prata”, considerada a de maior influência nos sentidos e sentimentos, haja vista é nessa época onde muitas mulheres engravidam na tribo, é também, à noite do sermão, do respeitado pajé Oxry Ke We.

A lua posicionada no alto do firmamento, Oxry Ke We reserva uma apresentação especial com objetivo de demonstrar a existência da força mental que existe em cada um dos indivíduos do seu povo que estava ao redor da grande fogueira com suas labaredas alcançando e emoldurando as estrelas no recanto tropical.

No alto de um tablado, em pé diante de sua tribo, iniciou breve palestra sobre os sentidos humanos, flexão e causa nos sentimentos individual e na coletividade, dedicou tempo silencioso a concentração orando um estranho canto aos ouvidos presentes, levantando os braços, mantendo-os abertos a população... Momento extraordinário, seu encantamento gerou força mentais coletiva, extasiados entreolhavam seus corpos acima da altura da cabeça do mestre, acima das labaredas... Enxergam seu corpo, mas o que são aquelas “cópias” no chão, o que é aquele fio brilhante que o ligava “seu corpo” pairando no ar com aquele corpo “sólido”!... O que é aqueles fios brilhantes se entrelaçando entre uns e todos!

Foram breves momentos, pouco a pouco, como um balão de gás esvaziando, retornam para o corpo “sólido”. A inusitada experimentação refletiu de maneira assustadora, surgiu o medo sentimento desconhecido inflando os integrantes a revoltarem-se contra o mestre ao crescente vozeio começam a afastar-se do local, não dando tempo necessário aos esclarecimentos do pajé sobre a força da mente.

Época de medo perdura naquele povo que decidiu não mais buscar esclarecimento, Oxry agora eremita isolado da população, recebe de tempos em tempos a visita do cacique. A tribo Mhalary está à mercê de interpretações dos sacerdotes.

Oxry Ke We, atualmente vive em outra comunidade junto aos descendentes da tribo Mhalary e aguarda pacientemente que os restantes do seu povo, resgate a luz espiritual escondida pelo medo no desconhecido subconsciente.

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